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TRÂNSITO
O trauma é só o começo
Acidentes com motos são mais da metade dos atendimentos de 2010 no pronto socorro do Hospital São José, em Joinville

Olhar por uma grande janela que areja o quarto, ou fixar os olhos no teto e pensar na vida, ou assistir uma pequena TV presa à parede são os jeitos que o encanador José Silvani Suttiel, de 34 anos, encontrou para esquecer do tempo. Há 22 dias ele está preso a um leito da ala de ortopedia do Hospital Municipal São José, em Joinville, no Norte do Estado. E a previsão é que fique pelo menos mais duas semanas na mesma posição, se tudo correr bem, antes de ter alta e ficar mais uns três meses numa cadeira de rodas.

O motivo é o mesmo que leva os leitos da ala de ortopedia estarem lotados: acidentes com motos. Pelo menos 90% dos leitos de ortopedia do São José são ocupados por acidentados e 65,3% dos atendimentos do pronto-socorro, no ano passado, foram feitos a motociclistas. Um quadro que se repete em outros hospitais do Estado e que é considerado um problema de saúde pública pelo secretário estadual de Saúde, Dalmo Claro de Oliveira.

José fraturou os ossos da bacia e o fêmur direito após bater em um carro na BR-280, em Jaraguá do Sul, também na região Norte, no dia 5 de março. Ele vinha de Blumenau, no Vale do Itajaí, onde presta serviços de encanador ao serviço municipal de águas, para ficar com os pais e o filho de quatro anos em Joinville.

No dia, resolveu deixar a moto em Blumenau, em uma casa onde tem ficado nos dias de semana, e viajar na garupa com um colega de trabalho. Por volta das 20 horas, já escuro, a cerca de cem quilômetros por hora, viram um carro cruzar a pista. “Eu só lembro do barulho da freada, depois de bombeiros me levando para a ambulância e de acordar no hospital, com muita dor”, conta.

Segundo José, um raio-X feito em Blumenau não teria acusado fraturas no momento do acidente por causa de um hematoma na parte interna da bacia e da coxa. “Com os remédios que me deram, a dor passou naquela noite. De manhã, disseram que eu podia me cuidar em casa. Mas na segunda-feira, a dor foi voltando, a ponto de à noite não conseguir me mexer”, recorda.

No Hospital São José, após uma de série de seis raios-X, as fraturas foram descobertas. José foi para a mesa de cirurgia, teve a coxa trespassada por uma haste de metal e foi para o quarto. Na haste, por meio de um fio, estão presos de quatro a cinco frascos de soro com d’água – cerca de quarto a cinco quilos de peso.

O acidente foi o mais grave dos três que José já sofreu de moto. Em 2003, quando era motoboy, ele trincou os ossos do pé direito em uma colisão com um carro. Em dezembro, bateu em um barranco e quebrou a clavícula do lado direito. Passou Natal e Ano-novo enfaixado. Agora, José pensa em comprar um carro. “Não vou pegar moto de novo tão cedo, talvez nem pegue mais”, diz. KREIDLOW

rogerio.kreidlow@an.com.br

ROGÉRIO

 


TRÂNSITO
Cada órgão com seus números

Santa Catarina ainda engatinha diante de um problema que todos podem ver, mas que a Secretaria Estadual de Saúde (SES) está longe de solucionar. O secretário de Saúde Dalmo de Oliveira admite que esse os acidentes com motos são um problema de saúde pública. Mas também revela que não há dados oficiais sobre o problema.

“É um problema de saúde pública por causa do volume de acidentes, do custo social e da assistência médica. A recuperação é lenta, muitas vezes com sequelas. E muitos pacientes ficam afastados do trabalho por um longo período ou permanentemente”, disse, o secretário, que estuda fazer uma campanha sobre o assunto.

“Não temos dados gerais do custo que os acidentes de moto representam para o Estado. No futuro, teremos um sistema que reúna estes dados”, garantiu o secretário.

Cada órgão, trabalha com suas próprias informações. É o caso da Polícia Militar (PM), Polícia Militar Rodoviária (PMRv), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Detran, Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT) e Banco de Dados do Sistema Único de Saúde (DataSUS) – além de cinco hospitais referência em ortopedia. São eles: Regional, de São José; Celso Ramos, na Capital; Municipal de São José, em Joinville; Santo Antônio, em Blumenau; e Nossa Senhora da Conceição, em Tubarão.

Nestes cinco hospitais, a situação é a mesma: a maior parte dos pacientes da ortopedia são vítimas de acidentes com moto. O atendimento é caro, a recuperação é lenta, faltam médicos e espaço físico. O perfil dos acidentados é semelhante: são jovens, de baixa renda que usam a moto para trabalhar.


 


TRÂNSITO
Histórias de Diogo e Leomar

O laminador de barcos Diogo Laia, 29 anos, corre o risco de nunca mais andar. Ele sofreu uma lesão na coluna depois de um acidente de moto no dia 12, em Palhoça, na Grande Florianópolis. Passou por uma cirurgia e ficou 13 dias internado no Hospital Regional de São José. “Não consigo mexer nem as pernas e nem os braços. Pode ser que nunca mas eu consiga caminhar”, diz Diogo, emocionado. Na sexta-feira ele voltou para casa, ao lado da mulher, a balconista Fabiana Cândido, 23. “O médico disse que Diogo lesionou a quarta e a quinta vértebras, e que sua recuperação vai depender da fisioterapia e da força de vontade”, diz Fabiana.

Há cerca de dois anos e meio, a vida do blumenauense Leomar Antônio Gottchefski, o Sasá, 46 anos, mudou radicalmente depois de um acidente com motocicleta. Ele trabalhava como mototaxista e fazia pequenas entregas para um escritório de contabilidade. Foi numa entrega que Sasá se envolveu em um acidente com um ciclista, no bairro Itoupava Seca. Fraturou quatro dedos das mãos e duas vértebras. O nervo ciático também foi atingido.

Sasá foi levado para o Hospital Santo Antônio de Blumenau. Ficou internado dois dias. Depois, dedicou-se aos tratamentos com medicamentos. Foi aconselhado por médicos a fazer cirurgia, mas não quis. Teve medo de ficar em cadeira de rodas. Hoje, Sasá convive com as dores. Deixou a profissão de mototaxista de lado. Hoje, é garçom.

Mas a paixão pelo motociclismo não foi abandonada. Desde o ano passado, preside o Sindicato dos Mototaxistas de Blumenau e ajuda a conscientizar colegas.

 


TRÂNSITO
Cada acidente custa R$ 50 mil

Cada acidente de moto no País custa, em média, R$ 50 mil aos cofres públicos, de acordo com dados pesquisados pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).

Com base nesta média nacional, foram gastos cerca de R$ 164, 3 milhões em acidentes com motos nas rodovias estaduais e municipais catarinenses em 2010. O número de acidentes, segundo a Polícia Militar, neste período e nas mesmas rodovias, foi de 3.286.

Os R$ 50 mil representam gastos com recolhimento do acidentado com ambulância, deslocamento do policial, a internação, os medicamentos do paciente, a fisioterapia, e o custo de reforma da via pública.

Só a diária em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pode chegar a R$ 2 mil. O custo dos antibióticos para tratar infecção ósseas, principalmente em casos de fraturas expostas, chega a R$ 500 a dose. Como elas têm de ser aplicadas de seis em seis horas, o gasto com um paciente é de R$ 2 mil por dia só com esta medicação. O custeio é via SUS.

Na ala ortopédica do Hospital Municipal de São José, em Joinville, os pacientes ficam 30 dias em média. Mas há casos graves de infecções ósseas que podem demandar até um ano de internação.

Na ortopedia do Regional da Grande Florianópolis, o acidentado com moto também sobrecarrega o setor. Além de ser referência, o Regional é o hospital mais próximo da BR-101, onde ocorrem muitos acidentes. Em 2010, 104 motociclistas e caroneiros morreram nas estradas federais catarinenses, incluindo a BR-101, segundo números da PRF.


 

 

FALTA DE REMÉDIOS
Revolta com falta de médicos
Em posto de saúde de Itapoá, espera por contratação já dura três meses

Com cartazes, apitos, tambores e panelas nas mãos, moradores de Itapoá, no Litoral Norte, saíram pelas ruas da cidade ontem de manhã para pedir melhorias na rede pública de saúde. Eles reclamam da falta de médicos nos postos e do atendimento no pronto-atendimento (PA), onde profissionais estariam orientando pessoas a procurarem atendimento nos postos de saúde.

Revoltadas com a situação, cerca de 50 pessoas fizeram uma passeata até a Câmara de Vereadores, como forma de pedir apoio ao Legislativo. Hoje, uma comissão de moradores promete entregar um abaixo-assinado e um ofício ao prefeito Ervino Sperandio (PSDB), para reivindicar a contratação de profissionais. À tarde, moradores planejam ir ao Ministério Público denunciar as condições de atendimento na rede de saúde.

A situação é mais crítica no bairro Samambaial, onde, segundo moradores, o posto de saúde está há três meses sem médico. A secretária interina de Saúde, Susinei Schultz, diz que uma médica, com contrato de 20 horas, foi destacada para atender em meio período no posto. Ontem, um aviso na porta informava que nove senhas seriam distribuídas para atendimentos no período da tarde.

Os moradores afirmam que não é sempre que a médica presta atendimento no local. “Além disso, poucos pacientes conseguem ser atendidos, a maioria, gestantes, que têm prioridade”, reclama Adriana Santana. “Estamos sem médico desde dezembro, quando o único médico que trabalhava aqui se aposentou. O problema é que a fila por atendimento é grande”, diz o enfermeiro do posto, Jean Carlo Falchetti. Ele afirma que muitas pessoas aguardam para mostrar um exame ao médico ou trocar receitas médicas.

Segundo a secretária Susinei Schultz, a Prefeitura de Itapoá cogitou fazer um revezamento dos médicos nos cinco postos da cidade, enquanto não consegue contratar um médico para o posto e outro para o pronto-atendimento. “Mas não sei até que ponto vale a pena, porque deixaremos outras regiões descobertas”.

Outro cartaz no posto de Samambaial apresentava a justificativa da Prefeitura para o problema: a falta de profissionais interessados. O comunicado informa que o município oferece salário de R$ 8.044,00, mais adicionais por plantões e sobreavisos. “Mesmo assim, está muito difícil contratar”, diz a secretária da Saúde.

 

 

 


ITAPOÁ
Protesto contra a falta de médicos

Com cartazes, apitos, tambores e panelas nas mãos, moradores de Itapoá saíram pelas ruas, ontem de manhã, para protestar por melhorias na rede pública de saúde. Eles reclamam da falta de médicos nos postos de saúde e do atendimento no Pronto Atendimento (PA) da cidade, onde profissionais estariam negando-se a atender pacientes que procuram o PA, alegando que estes deveriam procurar o posto de saúde.

Cerca de 50 pessoas fizeram uma passeata até a Câmara de Vereadores para pedir apoio do legislativo. Hoje, uma comissão de moradores promete entregar um abaixo-assinado e um ofício ao prefeito Ervino Sperandio para reivindicar a contratação de profissionais. E, à tarde, os moradores planejam ir até o Ministério Público denunciar as condições de atendimento na rede de saúde.

A situação é mais crítica no Bairro Samambaial, onde, segundo moradores, o posto de saúde está há três meses sem médico. A secretária interina de Saúde, Susinei Schultz, diz que uma médica, com contrato de 20 horas, foi destacada para atender em meio período no posto. Ontem, um aviso na porta informava que nove senhas seriam distribuídas para atendimentos durante a tarde.

Dificuldade para contratar médicos

Outro cartaz, fixado na porta do Posto de Saúde Samambaial, apresentava a justificativa da prefeitura para o problema: a falta de profissionais no mercado interessados em ocupar as vagas para médicos na cidade. O comunicado informa que a prefeitura oferece salário de R$ 8.044, mais adicionais por plantões.

– Mesmo assim, está muito difícil contratar. Na quarta-feira, deveremos receber a visita de um médico interessado, mas como muitos outros já deram esperanças e não vieram, não temos garantias, esperamos que ele goste da cidade e decida ficar – diz a secretária Susilei Schultz.

 

Itapoá

 

 

ACIDENTE DE MOTO
Caso de saúde pública


Mesmo sem números consolidados, Estado trata o problema como uma espécie de epidemia e planeja campanha de conscientizaçãoO laminador de barcos Diogo Laia, 29 anos, corre o risco de nunca mais andar. Ele sofreu uma lesão na coluna depois de um acidente de moto no dia 12, em Palhoça, na Grande Florianópolis. Diogo passou por uma cirurgia e ficou 13 dias internado no Hospital Regional de São José.

– Não consigo mexer as pernas nem os braços. Pode ser que nunca mas eu consiga caminhar – reconheceu o próprio Diogo, na última quarta-feira, ainda no hospital.

Na sexta-feira ele voltou para casa, ao lado da mulher, a balconista Fabiana Cândido, 23.

– O médico disse que o Diogo lesionou a quarta e a quinta vértebras, e que sua recuperação vai depender da fisioterapia e da força de vontade dele – contou Fabiana.

– Minha força de vontade é maior que o oceano – disse Diogo.

O acidente de Diogo e os muitos outros acidentes de moto não afetam apenas as famílias envolvidas, mas toda a sociedade, inclusive aqueles que não andam neste tipo de veículo. Além do drama das vítimas, estas ocorrências, pelo elevado número e por serem geralmente graves, representam um fardo para as emergências de hospitais públicos. Mesmo sem estatísticas completas, o secretário de Saúde do Estado, Dalmo Claro de Oliveira, colocou o assunto no topo das suas prioridades.

– É um problema de saúde pública por causa do volume de acidentes, do custo social e da assistência médica. A recuperação é lenta, muitas vezes com sequelas. E muitos pacientes ficam afastados do trabalho por um longo período ou permanentemente – observou o secretário, que planeja fazer uma campanha de conscientização sobre o assunto.

– Não temos dados gerais do custo que os acidentes de moto representam para o Estado. No futuro, contaremos com um sistema que reúna estes dados – garantiu o secretário.

Diante da dificuldade de se conseguir números oficiais, o DC foi em busca de informações junto a Associação dos Motociclistas da Grande Florianópolis (Amofloripa), Polícia Militar (PM), Polícia Militar Rodoviária (PMRv), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Departamento Estadual de Trânsito (Detran/SC), Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT) e Banco de Dados do Sistema Único de Saúde.

Vítimas são jovens de baixa renda

Os principais hospitais do Estado também foram procurados: Regional de São José, Celso Ramos, na Capital, Municipal de São José, em Joinville, Santo Antônio, em Blumenau, e Nossa Senhora da Conceição, em Tubarão.

Nestes cinco hospitais, a situação é a mesma: a maior parte dos pacientes da ortopedia são vítimas de acidentes com moto. O atendimento é caro, a recuperação, muitas vezes, é lenta, faltam médicos e o espaço físico na ortopedia para atender acidentados com moto é pequeno diante do número de casos. O perfil das vítimas também é parecido: são jovens, de baixa renda e que usam a motocicleta para trabalhar.

Colaborou Marcelo Becker

GABRIELA ROVA

 

 

ACIDENTE DE MOTO
Região Sul no topo em 2009 e 2010

 

Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná permaneceram, em 2009 e 2010, em primeiro lugar no ranking de regiões com maior número de acidentes com moto, de acordo com dados do DPVAT, seguro que cobre morte, invalidez e despesas médicas. Este ano, até ontem, a região ocupava o segundo lugar, pouco atrás do Nordeste.

– Tem muito acidente porque tem muita moto na rua – disse o presidente da Amofloripa, Pedro Luis Sabaciauskis.

– A falha está também nas auto-escolas que dão aulas em lugares fechados, sem a realidade do trânsito, da rua, da noite, da chuva – disse Sabaciauskis.

O bombeiro militar Evandro Dilmar Botelho, há 17 anos na profissão, concorda que o motociclista deve aprender antes os riscos que corre:

– A prevenção tem que começar ainda no aprendizado.

 

 

ACIDENTE DE MOTO
R$ 50 mil por caso aos cofres públicos

Cada acidente de moto no país custa, em média, R$ 50 mil aos cofres públicos, de acordo com a Amofloripa, baseada em dados pesquisados pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).

Com base nesta média nacional, foram gastos cerca de R$ 164, 3 milhões em acidentes com moto nas rodovias estaduais e municipais catarinenses, em 2010, se considerarmos o número de 3.286 ocorrências com moto nessas vias, nesse ano, de acordo com dados da PM.

Neste valor de R$ 50 mil estão incluídos custos do resgate, deslocamento do policial, internação, medicamentos, fisioterapia e a reforma da via pública.

Só a diária em uma UTI pode chegar a R$ 2 mil. O custo dos antibióticos para tratar infecção ósseas, chega a R$ 500 a dose. Como elas têm de ser aplicados de seis em seis horas, o gasto é de R$ 2 mil por dia só com esta medicação. O custeio é pelo SUS.

Na ala ortopédica do Hospital Municipal de São José, em Joinville, os pacientes ficam 30 dias em média. Mas há casos graves de infecções ósseas que podem demandar até um ano de internação. Na ortopedia do Regional da Grande Florianópolis, o acidentado com moto também sobrecarrega o setor. Dos 80 pacientes que estavam internados na quarta-feira, 68 eram por acidente de moto.

– E hoje (quarta-feira passada) temos um ortopedista de plantão para 2 milhões de habitantes – contou o médico de plantão Gustavo Carriço de Oliveira.

Foram 104 motoqueiros e caroneiros mortos na BR-101

Além de ser referência, o Regional é o hospital mais próximo da BR-101. Em 2010, 104 motociclistas e caroneiros morreram nas estradas federais catarinenses, segundo os números da Polícia Rodoviária Federal.

– É um veículo barato. O usuário, jovem, de baixa renda e que precisa sustentar os filhos não tem outra opção, já que o transporte público não funciona – observou Carriço

 

 


ACIDENTE DE MOTO
As duas rodas ficaram para trás

 

Há cerca de dois anos e meio, a vida de Leomar Antônio Gottchefski, o Sasá, 46 anos, mudou radicalmente depois de um acidente com motocicleta. Ele trabalhava como mototaxista e fazia pequenas entregas para um escritório de contabilidade. Foi numa entrega que Sasá se envolveu em um acidente com um ciclista, no Bairro Itoupava Seca. Fraturou quatro dedos das mãos e duas vértebras. O nervo ciático também foi atingido.

Sasá foi levado para o Hospital Santo Antônio. Ficou internado dois dias. Depois, dedicou-se aos tratamentos com medicamentos. Foi aconselhado por médicos a fazer cirurgia, mas não quis. Teve medo de ficar em cadeira de rodas, como ocorreu com um amigo.

Trabalho de conscientização no Sindicato dos Mototaxistas

Hoje, Sasá convive com as dores. Não pode carregar peso nem usar a motocicleta para trabalhar. Deixou a profissão de mototaxista de lado. Hoje, é garçom em um clube da cidade para se manter.

– Tudo mudou por causa do acidente. Participei do campeonato catarinense de motovelocidade por nove anos. Por seis anos fiz motocross e nunca tinha quebrado nada. Nunca mais fui o mesmo depois do acidente. Eu era outra pessoa. Dói lembrar disso – diz.

A paixão pelo motociclismo não foi abandonada. Há cerca de um ano, ele preside o Sindicato dos Mototaxistas de Blumenau. Uma das bandeiras da entidade é promover a conscientização dos motociclistas. O trabalho de prevenção de acidentes também é foco:

– Queremos que esse pessoal mais jovem segure a velocidade. Temos projeto para fazer cursos de direção defensiva junto às concessionárias de motocicletas.

 

Blumenau

 


ACIDENTE DE MOTO
Após três acidentes, motocicleta nunca mais

 

Olhar por uma grande janela que areja o quarto, fixar os olhos no teto e pensar na vida, ou assistir a uma pequena TV presa à parede são as maneiras que o encanador José Silvani Suttiel, 34 anos, encontrou para passar o tempo. Há 22 dias ele está preso a um leito da ala de ortopedia do Hospital Municipal São José, em Joinville, no Norte do Estado. E a previsão é que permaneça pelo menos mais duas semanas na mesma posição, se tudo correr bem, antes de ter alta e ficar mais uns três meses numa cadeira de rodas.

O motivo é o mesmo que leva os leitos da ala de ortopedia a estarem sempre lotados: acidente com moto. José fraturou os ossos da bacia e o fêmur direito após colidir com um carro em alta velocidade na BR-280, em Jaraguá do Sul, no dia 5 de março. Nesse dia, José resolveu deixar a moto em Blumenau e viajar na garupa com um colega de trabalho. Por volta das 20h, já escuro, a cerca de cem quilômetros por hora, viram um carro cruzar a pista.

No Hospital São José, após uma de sequência de raios-X, as fraturas foram descobertas e José foi para a mesa de cirurgia. Teve a coxa trespassada por uma haste de metal e foi para o quarto. Na haste, por meio de um fio, estão presos de quatro a cinco frascos de soro para estender a musculatura da perna e da bacia. Uma nova cirurgia para implante de metal na coxa não é descartada.

Agora, depois de sobreviver a três acidentes, José finalmente pensa em comprar um carro.

 

CLAUDIA BAARTSCH | Joinville

 

 

 

Mário Motta: Hospital para crianças em São José


O prefeito de São José, Djalma Berger, encaminhou à Câmara Municipal o projeto que concede à Fundação Hospitalar Oncológica Pediátrica de Santa Catarina um terreno para a construção do Hospital Oncológico Pediátrico de Santa Catarina. São duas áreas que abrigarão o hospital: uma com 4,2 mil metros quadrados para o hospital, de cinco andares, e outra com 1,3 mil metros quadrados para a Casa de Apoio. Ambas estão localizadas na avenida principal do Loteamento Ana Clara I, Bairro Areias, em São José. A concessão é por 20 anos e a fundação tem um ano para dar início às obras.

 

 

 

MOTOS
Uma questão de saúde
Pesquisa aponta que o SUS gasta R$ 50 mil com cada motociclista acidentado

 

BLUMENAU - A vida de Leomar Antônio Gottchefski, 46 anos, mudou completamente há dois anos e meio. Motociclista há duas décadas, trabalhava como mototaxista. Para ganhar um dinheiro extra, fazia entregas para um escritório de contabilidade. Em um acidente no Bairro Itoupava Seca, fraturou dedos, machucou vértebras e feriu o nervo ciático. Fez tratamento, mas teve que abandonar a profissão. Hoje, faz bicos como garçom e convive com dores diárias na coluna.

No ano passado, Blumenau registrou 1.457 motociclistas envolvidos em acidentes – 1.230 se feriram. Dos 61 óbitos registrados no trânsito da cidade em 2010, 40 foram sobre duas rodas. Este ano, já são nove mortes em acidentes com motos.

– Participei do Campeonato Catarinense de Motovelocidade por nove anos, por seis anos fiz motocross e nunca tinha quebrado nada. Foi uma das maiores tristezas da minha vida – lamenta Gottchefski, que encontrou na presidência do Sindicato dos Mototaxistas de Blumenau uma forma de manter alguma relação com o veículo que já lhe deu tanto prazer.

Cada acidente de moto no país custa, em média, R$ 50 mil aos cofres públicos, aponta uma pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Neste valor estão incluídos custos do recolhimento do acidentado com ambulância, deslocamento do policial, a internação, os medicamentos do paciente, a fisioterapia e o custo de reforma da via pública. Só a diária em UTI pode chegar a R$ 2 mil. O custo dos antibióticos para tratar infecção óssea, principalmente em casos de fraturas expostas, chega a R$ 500 a dose, que precisa ser aplicada de seis em seis horas. O custeio é via SUS.

– O acidente de moto envolve as áreas da educação, economia, saúde e o transporte. É um veículo barato, de fácil compra e fácil deslocamento. O usuário, jovem, de baixa renda e que precisa sustentar os filhos não tem outra opção, já que o transporte público não funciona – avalia o médico Gustavo Carriço de Oliveira.

À frente do sindicato dos mototaxistas, Gottchefski concorda que a preocupação maior é com os jovens motociclistas, que precisam ser orientados sobre o risco da alta velocidade sobre duas rodas. Há projeto para fazer cursos de direção defensiva em parceria com as concessionárias de moto. O bombeiro militar Evandro Dilmar Botelho, há 17 anos na profissão, reforça:

– A prevenção tem que começar no aprendizado.

 

PREVINA ACIDENTES 
- Mulheres não devem dirigir com salto fino ou plataforma 
- Ao se aproximar de cada esquina, é preciso diminuir a velocidade, mesmo que esteja na preferencial 
- Comece a conduzir motos de cilindradas baixas, como a 125 e a 150 
- Ande sempre no meio da pista, tanto na cidade quanto na rodovia, para evitar o ponto cego do outro motorista. Lembre que a moto deve ocupar o mesmo espaço de um carro, e não entre eles 
- Em rodovias, nunca trafegue no acostamento ou no limite entre a pista e o acostamento 
- Se estiver no trânsito e começar a chover, reduza a velocidade ou procure um lugar seguro para estacionar 
- Na chuva, procure andar pelo rastro que os pneus dos carros deixam, que serve para limpar a água da pista e mostrar os perigos, como buracos 
- Faça as revisões periódicas. Troque o óleo de acordo com o manual e nunca ande com os pneus carecas

 

 
MOTOS

Estado lidera ranking nacional por dois anos Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná estão há dois anos em primeiro lugar no ranking de regiões com maior número de acidentes com moto, de acordo com dados do DPVAT, seguro que cobre morte, invalidez e despesas médicas. Este ano, até ontem, a região ocupava o segundo lugar, atrás do Nordeste, com 3,37% menos acidentes. Mas o DPVAT, assim como as polícias rodoviárias, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) e o Banco de Dados do Sistema Único de Saúde (DataSUS) não têm estatísticas sobre os atendimentos feitos nos hospitais catarinenses.

Em Blumenau, o hospital referência em ortopedia é o Santo Antônio, que também carece de dados sobre quantos são os atendimentos mensais de motociclistas e quanto é gasto por paciente. Uma estimativa é feita pelo médico ortopedista e traumatologista Frederico Roston Gatti. Ele acredita que 60% dos pacientes que precisam de cirurgia ortopédica são motociclistas.

– As fraturas variam, mas em muitos casos são fraturas expostas na perna. O tempo de internação varia de uma semana a 10 dias. Só o tratamento com antibióticos leva sete dias – explica Gatti.

Ivânio dos Santos, soldado do Corpo de Bombeiros que atua no socorro às vítimas de trânsito, garante que todos os dias há ocorrências do tipo. Ele acrescenta que, além das pernas, é comum ver fraturas em braços, mãos e dedos.

– O parachoque de um motoqueiro é a perna.

ESTATÍSTICA 
Em 2010 o trânsito de Blumenau teve 2.193 acidentes e 61 mortes. Do total de feridos, 1.230 eram motociclistas – 40 morreram