icone facebookicone twittericone instagram


VIDA E SAÚDE
Muito além do tempo

Contra o tempo, não há quem possa. E nem é preciso tanto tempo assim para que a batalha tenha início. Depois dos 20 anos, a pele já começa a apresentar os primeiros sinais de velhice. Até os 30, eles serão suficientes para que você pare por um ou dois minutos em frente ao espelho esticando e enrugando a pele do rosto. Quem tem a pele clara começa a se incomodar com as manchinhas. Linhas de expressão em volta dos olhos são quase unânimes, mesmo que discretas - o preço que se paga por emoções fortes, como rir ou chorar sem economia. Daí por diante, elas ficam mais profundas, a pele mais fina e menos viçosa, as manchas mais numerosas. E não é um problema feminino. Desse mal, mulheres e homens sofrem por igual.

O corpo, no entanto, não. Há um motivo para dizerem por aí que as mãos são as grandes delatoras da idade de uma pessoa. Elas, junto a pescoço, rosto e colo são os primeiros a demonstrarem os sinais do tempo. O grande responsável, no entanto, não tem tanto a ver com a carteira de identidade. Culpe o sol.

– Isso que o brasileiro tem de associar bronzeado à saúde é errado. O bonito do bronzeado dura pouco tempo e sai caro mais tarde – sentencia a dermatologista Cleire Paniago.

Isso explica por que essas áreas, mais expostas aos raios solares, são as primeiras afetadas. De acordo com a especialista, 90% da aparência envelhecida da nossa pele é culpa do sol. Para começar, ele tem efeito cumulativo, o que significa que os danos serão consequências não de uma tarde debaixo do sol, mas de uma vida andando por aí sem proteção. Ele degenera o colágeno, deixando a pele mais flácida e quebradiça, é responsável pelo aparecimento de manchas claras e escuras e deixa a pele mais áspera.

Outro vilão é o cigarro. Segundo o dermatologista Ricardo Fenelon, ele adiciona cerca de 10 anos à pele. E, diferente do sol, não são ruguinhas e manchas nas mãos as consequências do fumo.

– As rugas geralmente já vêm profundas, ao redor da boca, devido ao movimento – afirma.


Para não perder o sono
Uma noite maldormida deixa sinais que vão muito além de corpo cansado e olhos inchados
No meio acadêmico, sabe-se que Albert Einstein (1879-1955) dormia em média 10 horas por noite. A anedota vai além: quando o físico sabia que teria um dia cheio pela frente, adicionava mais uma horinha.

Mas e se Einstein tivesse nascido em pleno século 21? Será que a TV a cabo, os tablets, as redes sociais, os sites, os chats, os smartphones, os videogames e todos os demais elementos da vida moderna permitiriam esse luxuoso tempo de descanso absoluto? E se Einstein, como a maioria da população de hoje, não tivesse mais que meia dúzia de horas de sono corrido? Ainda seria um gênio? A ciência não tem elementos para avaliar o que seria do cientista alemão após noites em branco, dada a relatividade da suposição – sem trocadilhos com sua famosa teoria.

Contudo, há evidências numerosas de que a qualidade do sono está intrinsecamente ligada à saúde, à qualidade de vida e à capacidade de cognição do indivíduo. Tal correlação, em tempos de privação de sono generalizada, afeta brutalmente a sociedade.

Uma noite maldormida vai muito além de um rosto cansado, de olhos inchados e de pele sem vida, podendo levar a pessoa a problemas sérios, como hipertensão, impotência sexual, diabetes ou mesmo um acidente vascular cerebral (AVC). Segundo dados da Sociedade Brasileira do Sono, um em cada três brasileiros tem dificuldade para dormir. O assunto é tão preocupante que o Conselho Federal de Medicina reconheceu, em outubro, a área do sono como uma especialidade médica.

– É um mal da modernidade. Antes, a programação da televisão acabava cedo. Depois do Corujão, você ligava a TV e era só estática. Então, todo mundo ia dormir. Hoje, fazemos uma restrição de sono crônica – alerta o neurocientista Fernando Louzada. – Não é que as oito horas sejam obrigatórias. Mas esse, em geral, é um número que funcionaria bem para todo mundo. Menos de sete horas por noite é uma irresponsabilidade.

Todos estão sempre ocupados, e o sono é uma das primeiras coisas a serem sacrificadas quando sentimos que não há horas suficientes no dia.

– Nós seríamos muito mais produtivos se estivéssemos bem descansados – diz o psicólogo James B. Maas, autor de obras que relacionam o sono ao sucesso profissional.



CINCO FASES
O neurologista Walter Teixeira explica que o sono é dividido em cinco estágios. Ao dormir, entra-se no primeiro: um sono muito leve, no qual o corpo já está em um estado considerável de repouso. Os músculos relaxam, e a respiração diminui. A passagem para o estágio dois se dá em minutos.

Essa fase dura de 10 a 20 minutos e é marcada por intensa atividade cerebral e total quebra de vínculo com o ambiente. Na terceira fase, que dura em média 30 minutos, as ondas cerebrais ficam mais lentas, até a chegada da fase quatro, na qual o sono é extremamente profundo. A pressão arterial cai, o fluxo sanguíneo diminui, e a respiração fica lenta. Apesar do aparente marasmo, é nessa fase, de até 40 minutos, que muitos hormônios têm picos produtivos, como o hormônio do crescimento (GH), secretado pela glândula pituitária (daí a importância de uma excelente noite de sono para crianças e adolescentes).

– É o mais próximo que os humanos chegam da hibernação. É um estágio no qual, se acordado, você se sentirá grogue – diz Maas.

Depois desse estágio, você retorna ao três, e depois ao dois. Aí, já se vão 90 minutos de sono. De repente, o sistema nervoso simpático fica mais e mais ativo, assim como a pressão, a respiração e a circulação sanguínea. Os olhos, ainda fechados, se mexem rapidamente, e você entra na famosa fase REM (rapid eye movement, movimento rápido dos olhos).

Mesmo com o cérebro completamente ativado, os músculos relaxam e param de se mexer, fenômeno conhecido por paralisia do sono. É aí que começamos a sonhar. O ideal é atingir o estado REM de quatro a cinco vezes por noite – sete a oito horas de sono diárias.