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SAÚDE
Retina saudável
Experimento consegue reverter cegueira hereditária

Há três anos, um grupo de 12 pacientes com cegueira hereditária se submeteu a um experimento inédito, baseado na terapia gênica, uma das grandes apostas da medicina moderna. A equipe da oftalmologista Jean Bennett, da Universidade da Pensilvânia, conseguiu reparar a mutação em um dos olhos, enviando à retina um gene novo e saudável, transportado por um vírus. O sucesso do procedimento levou os cientistas a refazer o procedimento. Desta vez, na retina que não havia sido tratada. Além de melhorar a visão dos portadores de amaurose congênita de Leber, a terapia não foi rejeitada pelo organismo, como temiam os pesquisadores. O resultado da pesquisa foi publicado recentemente na revista médica “Science Translational Medicine”. “Conseguimos comprovar que o procedimento é seguro, mesmo quando envolve os dois olhos”, comemora Jean.

Ela conta que, embora nenhum dos 12 pacientes do primeiro teste tenha recuperado completamente a visão, cinco deles melhoraram muito a acuidade visual, a ponto de não serem mais considerados cegos. O resultado veio rápido. Três meses depois da primeira injeção, um exame de ressonância magnética mostrou que, quando os cientistas apresentavam uma imagem aos participantes, a região cerebral relacionada à visão ficava ativada. Isso não acontecia antes do procedimento.

Empolgados com o resultado, os pesquisadores começaram a reaplicar a terapia gênica seis meses após o primeiro teste. Três pacientes adultos que já haviam sido tratados na primeira fase foram escolhidos para participar do novo estudo.

“Realizamos uma outra rodada de ressonância magnética. Depois da injeção do segundo gene, o exame confirmou que o processo de formação da visão no cérebro estava sendo ativado nos dois olhos, de forma simultânea. Para nossa surpresa, essa resposta melhorou, inclusive, no primeiro olho tratado. O mais importante é que, ao contrário do que temíamos, o organismo não desencadeou uma resposta imunológica contra o gene. Provavelmente porque o olho é um órgão que tolera bem substâncias estranhas”, comenta a médica.

A oftalmologista afirma que a técnica se encontra na fase três de estudos e deve ser aprovada em um futuro próximo pela Food and Drugs Administration, o órgão de vigilância sanitária dos Estados Unidos. Ela alerta, porém, que isso não significa a cura da cegueira.

Albert M. Maguire, coautor do estudo e pesquisador do Hospital Infantil de Boston, conta que essa doença é caracterizada por uma mutação no gene RPE65. Normalmente, as células dos olhos ativam esse gene para que ele produza uma enzima necessária para o funcionamento e a proteção de um tecido formado por estruturas fotorreceptoras.

“Pacientes com a variante genética e hereditária não conseguem produzir essa enzima, impedindo que as células fotorreceptoras façam seu trabalho. É importante que as pessoas saibam que estamos lidando com um caso específico, e não com a cegueira em geral”, afirma o especialista.

 

 

SAÚDE
A orquestra dos hormônios
Uma das substâncias mais complexas produzidas no organismo, elas controlam desde o metabolismo até as funções sexuais e a personalidade

Os hormônios são os mestres de nossa orquestra. E o corpo é o instrumento, por meio do qual pode soar uma música bela e divina, quando afinado e bem dirigido pelo seu maestro. É nosso dever manter nosso instrumento sempre harmonizado. Porém, há quem não trate esse assunto tão a sério. Sua importância é esquecida em detrimento de promessas milagrosas, como ganhar um corpo perfeito, pele mais jovem, músculos avantajados, felicidade, libido e humor em alta. As substâncias, vendidas e expostas indiscriminadamente em farmácias, banheiros de academias, sites, revistas de celebridades, acabam enganando muita gente que desconhece que o sistema endócrino é todo interligado, e qualquer problema em uma das partes pode afetar o funcionamento das outras, como um instrumento desafinado compromete uma orquestra inteira. E o pior: seus efeitos adversos são desastrosos.

A questão é complexa quando o propósito é usar as substâncias para as formas mais controversas, muitas delas sem comprovação científica. A exceção fica por conta do uso do GH, o hormônio do crescimento, em crianças com baixa estatura, mas sem nanismo hipofásico, a doença cuja indicação é a ideal. Segundo o endocrinologista Guilherme Rollin, presidente regional da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), em praticamente 100% dos casos o uso dos hormônios para tratamentos médicos devem ser somente indicados quando há uma doença real que compromete a sua função e secreção.

“Tratar com hormônio uma situação em que não há uma doença comprovada ainda é muito discutível. No nanismo hipofásico, por exemplo, a criança não produz o hormônio na hipófise, se você não repor ela ficará com nanismo, terá um metro de altura. Mas hoje já tem alguns estudos mostrando que algumas crianças de baixa estatura podem se beneficiar, que não são a maioria. O problema é que, pressupondo que o diagnóstico de uma doença parcial do GH, este haveria de ser molecular, por meio da análise de genes”, aponta Rollin.

O uso não-científico do hormônio do crescimento também é vendido como fonte de juventude para adultos, enquanto que seu uso para esse público mais uma vez só é indicado quando há uma real deficiência, como um tumor, cuja radioterapia alterou a hipófise.

“Os benefícios do GH, como regeneração celular, ossos, músculos, só serão úteis para quem realmente precisa. Quem tem o nível adequado e suplementar, aumentará mais os níveis do que o corpo está preparado, colocando-o em vários riscos, como desenvolver diabetes pelo aumento da glicose, de desenvolver doenças cardíacas, câncer de próstata, de mama, intestino”, avisa o médico.

Imprudência

Exemplos de imprudência não faltam. Uma exemplo é uma polêmica dieta da moda, conhecida como “Dieta HCG”, usada nos Estados Unidos e Europa por causa da proibição dos inibidores de apetite. O HCG (sigla em inglês para Gonadotrofina Coriónica Humana) é um hormônio que o corpo da mulher produz quando está grávida. A dieta promete perda rápida de peso com a ingestão de apenas 500 calorias diárias, com a proibição do consumo de carboidratos e açúcar mais três injeções diárias ou cápsulas do hormônio.

Como o HCG é produzido pelo corpo da mulher durante a gravidez, uma de suas funções é transferir a reserva de gordura do corpo e os nutrientes para a placenta, com o objetivo de alimentar o bebê e não para eliminar a fome ou a gordura. Consequentemente, como metabolismo mais elevado o corpo passa a eliminar a gordura, protegendo o tecido muscular. Arbitrariedade pura.

“Quem quer ‘acelerar o metabolismo’ com hormônios como a tireoide, por exemplo, corre o sério risco de ter arritmia cardíaca e morrer”, resume a endocrinologista Helena Schmid.

 

Faça o teste
Você tenta, tenta, e não consegue emagrecer de jeito nenhum. Sim, o seu problema pode ser hipotiredismo, que afeta 30% das mulheres. Se você responder afirmativamente a pelo menos cinco destas questões, deve procurar um médico, pois pode estar sofrendo do mal.
1 Eu me sinto cansado e durmo a maior parte do tempo, me sentindo sem energia e força.
2 Meu cérebro trabalha lentamente, meus pensamentos ficam nebulosos, minha concentração e minha memória ficam pobres.
3 Tudo em meu corpo parece estar decaindo, inclusive meu metabolismo, e meu peso está aumentando.
4 Minha pele e meu cabelo estão secos e pálidos.
5 Eu sinto frio na maior parte do tempo, mesmo quando as outras pessoas não sentem.
6 Eu tenho pensamentos negativos e me sinto deprimido.
7 Meus movimentos e reflexos se tornaram mais lentos.
8 Eu sinto meus músculos duros, dor em meus ossos e dormências nas minhas mãos.
9 Minha pressão sanguínea subiu, e meus batimentos cardíacos estão mais lentos.
10 Meu nível de colesterol está mais alto.
Fonte:
www.thyrolink.com
Poder feminino banalizado
A exemplo da personagem Samantha, da série “Sex and the City”, mulheres aderem à terapia de reposição hormonal para combater e amenizar os efeitos da menopausa, mas também a usam como se fosse um complemento ao tratamento de beleza. As vantagens existem, assim como os riscos. Ao mesmo tempo em que é receitado para curar um câncer de mama, é acusado de ter causado outro. A orientação médica é a única regra diante da guerra publicitária que aquece o mercado dos hormônios sintéticos.
Como funcionam
“Os hormônios são mensageiros químicos lançados no sangue que agem em células ou tecidos-alvos. São produzidos pelas glândulas endócrinas e existem mais de cem, sendo uns mais conhecidos do que outros.
Com tamanho de moléculas, mas capazes de derrubar um adulto, os hormônios regulam o funcionamento do corpo, como se fossem a gasolina do nosso organismo. Responsáveis por coisas tão diversas, como a vontade de sair da cama de manhã e a produção do leite materno, o menor desequilíbrio na produção dessas substâncias provoca sintomas desconfortáveis, como queda de cabelo, ganho de peso, fraqueza e irritação. Um maior desequilíbrio, entretanto, pode causar doenças mais sérias, como câncer.
“Tudo começa no cérebro. É de lá que surgem as primeiras instruções para a liberação dos hormônios. O hipotálamo é uma espécie de gerente da rede, que comunica-se com o sistema nervoso e avisa para os produtores de hormônios qual é a quantidade necessária para garantir o funcionamento da ‘fábrica’.”
“O hipotálamo é o centro regulador que cuida do equilíbrio do corpo. Ele capta informações dos órgãos e do ambiente externo para orientar toda a atividade metabólica da pessoa”, explica o endocrinologista Neuton Dornelas Gomes, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia no Distrito Federal.

OS PRINCIPAIS HORMÔNIOS
Insulina
A CHAVE PARA A ENERGIA
Onde é produzida: pâncreas.
Onde atua: é a responsável pela entrada da glicose nas células, onde é convertida em energia. Também atua no cérebro (hipotálamo), onde estimula a sensação de saciedade, sobretudo depois da ingestão de alimentos gordurosos e ricos em açúcar, que demandam a liberação de doses altas do hormônio. Quando o pâncreas produz uma quantidade insuficiente de insulina, as células do organismo se tornam resistentes à ação do hormônio e surge o diabetes.

T4
A QUÍMICA DA ESTABILIDADE
Onde é produzido: glândula tireoide.
Onde atua: no metabolismo. É uma espécie de maestro do ritmo de funcionamento do organismo. Na pele, participa na produção de suor. Também atua no coração, participando do mecanismo de contração e relaxamento cardíacos (o que determina o ritmo dos batimentos) e no cérebro (hipotálamo, tronco cerebral, amígdala e córtex cerebral). Ativa os centros associados à disposição física e ao bem-estar.

Melatonina
SONO E TRANQUILIDADE
Onde é produzida: na glândula pineal.
Onde atua: no cérebro (hipotálamo). Mantém o equilíbrio entre as fases principais do sono e desencadeia a sensação de relaxamento.
Oxitocina:

O HORMÔNIO DAS GRÁVIDAS
Onde é produzida: no cérebro
(hipotálamo).
Onde atua: Estimula as contrações do útero no trabalho de parto e durante a relação sexual. Participa da contração das células musculares das mamas, propiciando a produção de leite. No pâncreas, auxilia a produção de insulina pelas células beta. Também está envolvida na formação de espermatozoides. No cérebro (lobo frontal, amígdala, hipotálamo e tronco cerebral), ativa as regiões cerebrais relacionadas às sensações de autoconfiança, vínculos de afeto e relaxamento.
Testosterona:

SUBSTÂNCIA DE MACHO
Onde é produzida: testículos e ovários.
Onde atua: aumenta a massa muscular, em especial na região peitoral e nos ombros. Também participa do crescimento de pelos e da oleosidade, essencial para manter o viço da pele. Mantém as células formadoras de ossos. É outro hormônio fundamental para a formação dos espermatozoides. Também interfere na vibração da voz e participa do processo de renovação celular e na libido.

GH
A SUBSTÂNCIA DA JUVENTUDE
Onde é produzido: glândula hipófise.

Onde atua: nos músculos, unhas, pele e cabelos, participando do mecanismo de regeneração das células. Também estimula a formação óssea e é essencial para a renovação celular. No fígado, contribui para a síntese de proteínas e no cérebro, atua no hipotálamo, tronco cerebral, amígdala e córtex, onde provoca a sensação de vitalidade e de bem-estar.

Estrógeno
O ARQUITETO DAS CURVAS FEMININAS
Onde é produzido: nos ovários
Onde atua: é fundamental no processo de renovação das células da pele. Estimula o acúmulo de tecido adiposo na região dos quadris e das mamas. Funciona como combustível para a libido.

Progesterona
A TPM É CULPA DELA
Onde é produzida: nos ovários.
Onde atua: prepara o útero para receber o óvulo fecundado, aumentando a circulação sanguínea e a formação de muco. Durante a gravidez, inibe as contrações, impedindo a expulsão do embrião. Participa do processo de reabsorção de água e sal, sem o qual o organismo perde o equilíbrio hídrico. Age também nas glândulas mamárias, de forma a aumentar a sua capacidade de secretar leite. Pode interferir no humor.

Cortisol
ALTA TENSÃO
Onde é produzido: nas glândulas suprarrenais.

Onde atua: nos vasos sanguíneos, sendo responsável pela manutenção da pressão arterial. Interfere no metabolismo de glicose no sangue e aumenta a resistência do organismo à ação do hormônio insulina, favorecendo a disponibilidade da oferta de glicose para o cérebro em momentos de necessidade, como em situações de estresse. No coração, estimula a contração muscular e os batimentos cardíacos.
Grelina

BOM DE GARFO
Onde é produzida: no estômago, no pâncreas e hipotálamo.
Onde atua: no coração, participa do mecanismo de bombeamento de sangue do músculo cardíaco para o resto do organismo. Também estimula o apetite.
Leptina

SUBSTÂNCIA DA SACIEDADE
Onde é produzida: nas células de gordura.
Onde atua: no ossos, músculos, tendões, ligamentos e articulações. Aumenta a capacidade de síntese de glicogênio e ácidos graxos, o que garante a boa nutrição (consequentemente, a boa saúde) do tecidos. No cérebro (hipotálamo), ativa o mecanismo de saciedade.


 

 

 

De novo
Com inauguração prometida para 2008 pelo governo Tebaldi e pelo governo Carlito para o ano passado, o quarto andar (30 leitos) do Hospital São José seria entregue em março, conforme última promessa. Seria. Agora, ficou para um vago “neste semestre”.

 

 

 

 

Setor privado garante atendimento à saúde na Capital
Em 24 anos, foram construídos sete hospitais em Florianópolis, mas nenhum público
Emanuelle Gomes e Letícia Mathias

 

Florianópolis - O serviço de assistência à saúde é um direito garantido ao cidadão na Constituição, mas nem sempre funciona como deveria. Neste ano, o assunto também virou tema da Campanha da Fraternidade da Igreja Católica, iniciada no último dia 22. Em Santa Catarina, a discussão é valida, tendo em vista a precariedade e a defasagem quando o assunto é atendimento hospitalar, principalmente na Grande Florianópolis.

Por outro lado, em pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde, na semana passada, Santa Catarina foi o Estado que ficou melhor classificado no Brasil por meio do recém-criado IDSUS (Índice de Desenvolvimento do Sistema Único de Saúde), que avalia o atendimento na rede pública de saúde, com uma nota de 6,29 em uma escala de zero a 10. Entre as capitais, Florianópolis ficou com nota 6,67, a terceira no ranking, mas também é a 14ª entre as 21 cidades da região.

O primeiro parágrafo do artigo 199 da Constituição estabelece que as instituições privadas poderão participar de forma complementar do SUS (Sistema Único de Saúde). No Estado, o setor privado é responsável por mais de 70% dos leitos, de acordo com dados da FEHOESC (Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de Santa Catarina).

De 1987 até hoje, o governo de Santa Catarina não investiu na construção de novos hospitais públicos. Nesses 24 anos, foram inaugurados sete hospitais privados na Capital, que atendem particular e por meio de convênios. Atualmente, há mais de 500 leitos ativos da iniciativa privada em Florianópolis.

O professor de pós-graduação da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e médico especialista em saúde da família e saúde pública, Marco Aurélio Da Ros, entende que o setor privado não está complementando nem suprindo o serviço de saúde, mas sim “roubando o serviço prestado” e isso só ocorre porque o governo tem dado espaço. “A grande maioria dos gestores de saúde, principalmente municipais, nem sabe como conseguir recursos, desconhece os caminhos. O Ministério da Saúde não deveria repassar recurso se o secretário não fizesse um minicurso de SUS. É preciso uma capacitação mínima”, afirma Da Ros.

Falta investimento no setor

Samuel Cardoso, 49 anos, analista de sistemas, tem convênio médico e paga para ter mais tranquilidade na hora do atendimento. Ele acredita que o investimento que faz no convênio poderia ser poupado se o governo investisse na saúde. Enquanto aguardava por sua mulher na sala do hospital Baía Sul, disse que, além da falta de estrutura, o pior é a falta de qualidade no atendimento. “Estar doente já é um problema, se ainda tiver que se preocupar se vai ter leito, se vão te atender bem ou mal, fica muito difícil, principalmente se você está numa emergência”, contou.

Para Da Ros, o problema está na falta de quesitos importantes: capacitação dos gestores; políticas sociais que regulamentem o sistema; investimento em planos de carreira para o servidor e na atenção básica de saúde. Desde 1990, quando foram aprovadas as leis orgânicas de saúde, não houve mais lei para regulamentar o SUS. Apesar de não ter uma pesquisa específica, nem indicadores diretos, ele acredita que 40% da população de Florianópolis tem acesso a um plano de saúde particular. Na média brasileira, esse índice cai para 25%. “Não é que o governo não dá conta da demanda, é que não tem a saúde como prioridade”, lamentou.

Governo recebe propostas para melhorias

A preocupação com a saúde pública no Estado levou a FEHOESC e a AHOESC (Associação de Hospitais do Estado de Santa Catarina) a encaminharem um documento ao Secretário de Saúde de Santa Catarina, Dalmo Claro de Oliveira, em março de 2011,  com propostas de melhorias em relação aos servidores, atendimento, infraestrutura e sistema. O documento mostra a participação do setor privado na saúde catarinense.

De acordo com dados da federação, as entidades privadas reunidas em Santa Catarina representam 6.724 estabelecimentos prestadores de serviços de saúde, sendo 182 hospitais, 3.041 clínicas, 539 laboratórios e 2.962 serviços de saúde diversos. No total são 221 hospitais em Santa Catarina, aproximadamente 82% são das entidades privadas. Também no tratamento intensivo, a participação do setor privado/filantrópico é determinante com mais de 77% dos 708 leitos de UTI disponíveis em Santa Catarina.

O presidente da FEHOESC, Tercio Kasten, acredita que Santa Catarina não consegue atender a demanda. Um dos maiores problemas, segundo ele, é a baixa remuneração pela tabela do SUS. “A gestão do hospital público é muito deficiente. Deveria investir em controle, auditoria, fiscalização e remuneração para melhorar. É preciso organizar o sistema”, propõe Kasten.

Segundo Oliveira, foi entregue um material genérico com dados da saúde. “Nós temos feito convênios com os filantrópicos, pagamos procedimentos extras. Eu me surpreendo com a posição da associação“, resumiu.

Estamos diminuindo as internações”

O secretário de Estado da Saúde, Dalmo Claro de Oliveira, acredita que a criação dos hospitais privados não tem ligação com o serviço público prestado na área da saúde. “Só na Grande Florianópolis temos 18 hospitais públicos. Não podemos analisar a qualidade do serviço pelo número de leitos. Estamos investindo na atenção básica e diminuindo o número de internações”, alegou. Para Oliveira, o crescimento da iniciativa privada no setor é natural, principalmente pelo aumento do poder aquisitivo da população da Capital, que investe mais em planos de saúde. “Esses hospitais surgem porque há mercado”, destacou.

O Estado, hoje, conta com 200 hospitais privados, chamados de filantrópicos, que atendem pelo SUS. De acordo com o secretário, é muito mais vantajoso para o governo,  e barato estimular esse modelo do que construir novos hospitais. “O modelo de gestão está mais próximo à população e o serviço é descentralizado”, acrescentou.

Sobre a tabela do SUS, Oliveira afirmou que a Secretaria de Estado da Saúde já entrou em contato com o Ministério da Saúde requisitando mudanças. Segundo o secretário, a saúde do Estado enfrenta falta de recursos por um problema federal. “O governo estadual investe 12% dos seus recursos em saúde. Já o federal destina menos de 5%”, comparou.

DESTAQUE

Privados com fins lucrativos: pode atender particular e/ou por convênio

Privado sem fins lucrativos – filantrópico: 60% do atendimento deve ser voltado ao SUS ou 20% do atendimento gratuito. O governo não tem obrigação de investir nos hospitais filantrópicos.

 

 

 Melhor Estado no ranking do SUS, Santa Catarina precisa evoluir
Santa Catarina peca na oferta de serviços mais complexos como cardiologia e oncologia
 

 Ana Sartori, 63 anos, busca atendimento há 26 mesesA pensionista Ana Sartori, 63 anos, enfrentou 340 quilômetros de estrada em busca de uma consulta com neurologista na Capital. Ela saiu às 2h de Santa Cecília, no Meio-Oeste do Estado, na ambulância da prefeitura. Voltou para casa sem atendimento especializado. Ela é o exemplo do que o melhor Estado brasileiro, na classificação divulgada na quinta-feira pelo Ministério da Saúde, por meio do recém-criado IDSUS (índice de Desenvolvimento do Sistema Único de Saúde), precisa melhorar para garantir atendimento gratuito e de qualidade à população. Santa Catarina obteve avaliação 6,29 em uma escala de zero a 10.

Se os 21 municípios da Grande Florianópolis estivessem no banco escolar, apenas nove estariam aprovados com notas acima de 7,0. Águas Mornas, cidade com 5.617 habitantes, lidera o ranking regional com avaliação de 7,82. O último posto coube a Major Gercino, com 5,73. A avaliação de Florianópolis ficou abaixo do razoável, com 6,67, mas o suficiente para ser a terceira Capital melhor colocada no país. Vitória (7,08) e Curitiba (6,96) lideram o ranking.

Segundo o secretário de Estado da Saúde, Dalmo Claro de Oliveira, os números são satisfatórios, mas Santa Catarina peca na oferta de exames e procedimentos cirúrgicos mais complexos. “Temos que fazer uma análise realista. Avançamos na área de transplantes, mas precisamos melhorar serviços especializados como cirurgia cardíaca e oncologia”, reconheceu. Oliveira explicou que o Estado investiu R$ 71 milhões em reformas e ampliações de hospitais em 2011.

O ex-secretário de Saúde da Capital, João José Candido, explicou que o Brasil investe metade do que é necessário no SUS (Sistema Único de Saúde). “Temos o maior e mais abrangente serviço público de saúde do mundo, mas investimos apenas 3,75% do PIB (Produto Interno Bruto)”, ressaltou.

A batalha de Ana Sartori é longa. Entre a marcação da consulta, realização de exames e o retorno à Capital já se passaram mais de dois anos. Na última sexta-feira, ela não foi atendida no hospital governador Celso Ramos por uma falha de comunicação. A médica que avaliaria as tomografias da cabeça da aposentada estava de férias. “Falaram que ligaram para desmarcar a consulta, mas não recebi nenhum telefonema. Agora, preciso voltar em abril”, lamentou.

Drama semelhante viveu a dona de casa Dalbege Aparecida da Silva, 40 anos. Ela está no fim do tratamento para combater o câncer no rim, baço e pâncreas. Há três anos, ela praticamente forçou a entrada no hospital. “Fui ao posto e a médica pediu o encaminhamento, mas como estava demorando, e eu quase morrendo, meu marido me levou para a emergência”, lembrou. Recuperada, Dalbege agradece pela sorte que muitos não têm. “A gente paga a contribuição social, mas quando precisa não é atendido”, reclamou a moradora do bairro Coqueiros, na Capital.

Os casos de Dalbege e Ana são distintos, mas em comum as duas alegam que foram bem recebidas nos postos de saúde, que oferecem o atendimento inicial e serviço de baixa complexidade, como consultas médicas e procedimentos ambulatoriais. Nesse quesito, o Estado também foi destaque no ranking do IDSUS (Índice de Desenvolvimento do Sistema Único de Saúde). O secretário de Estado da Saúde, Dalmo Oliveira Claro, explicou que a abrangência da ESF (Estratégia da Saúde da Família) é de 100% nas regiões Oeste e Meio-Oeste, mas precisa avançar no Norte.

O IDSUS leva em conta 24 indicadores de saúde, com dados coletados em 2007 e 2010. A regra é simples: o município ganha pontos à medida que atende os usuários, independente se  moram na cidade. A qualidade também conta pontos. Já a demora nos encaminhamentos ficou fora das exigências para listar o acesso à saúde.


Ranking da Grande Florianópolis

Posição - Cidade - População - Nota

1º - Águas Mornas - 5.617 - 7,82
2º - Paulo Lopes - 6.751 - 7,75
3º - Governador Celso Ramos - 13.107 - 7,73
4º - Santo Amaro da Imperatriz - 20.082 - 7,68
5º - São Pedro de Alcântara - 4.790,7,56
6º - Angelina - 5.210 - 7,42
7º - Antônio Carlos - 7.537 - 7,18
8º - São Bonifácio - 2.992 - 7,12
9º - Rancho Queimado - 2.757 - 7,01
10º - Nova Trento - 12.369 - 6,94
11º - Biguaçu - 58.983 - 6,86
12º - Anitápolis - 3.212 - 6,73
13º - Canelinha - 10.726 - 6,72
14º - Florianópolis - 427.298 - 6,67
15º - Palhoça - 139.989 - 6,66
16º - Leoberto Leal - 3.336 - 6,54
17º - Alfredo Wagner - 9.452 - 6,52
18º - São João Batista - 27.135 - 6,47
19º - Tijucas - 31.533 - 6,38
20º - São José - 212.586 - 5,95
21º - Major Gercino - 3.289 - 5,73