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SECRETÁRIA DE SAÚDE
“Temos que cuidar melhor das pessoas”
Gestão é uma das dez prioridades da nova secretária de Saúde, Antonia Grigol


Estudiosa e defensora do Sistema Único de Saúde (SUS), a nova secretária de Saúde de Joinville, Antonia Grigol, quer visitar cada uma das unidades de saúde da cidade, estar mais perto dos profissionais, apostar em atendimento humanizado e em desatar nós como as obras do quarto andar do Hospital São José, do Complexo Ulysses Guimarães, a construção do Centro de Zoonoses, além de buscar mais diálogo com o Estado em relação ao Hospital Regional, que sofre com a falta de médicos.

Os compromissos (confira a lista completa acima) foram assumidos em entrevista ao jornal “A Notícia” na tarde de quarta-feira, quando visitou a redação em companhia do diretor executivo da pasta, Armando Lorga, e de assessores. Antonia e Armando foram sabatinados pela editora executiva Suzana Klein, pelo colunista Jefferson Saavedra, pelo editor Leandro Junges e pelo repórter Rogério Kreidlow.

Em uma hora e meia de conversa, no seu primeiro dia de comando na pasta, a nova secretária reafirmou que dará continuidade a obras e programas iniciados na gestão do ex-secretário Tarcísio Crocomo e admitiu que terá muito trabalho para conhecer toda a estrutura da secretaria e os detalhes dos problemas a serem resolvidos.

Militante do SUS desde 1985 e com longa atuação acadêmica (é professora de enfermagem no Ielusc), Antonia demostra conhecimento em políticas e programas do SUS e em questões que dizem respeito ao dia a dia dos profissionais de saúde, como fatores que dificultam um atendimento mais acolhedor aos pacientes.

Antonia acredita que é possível trazer mais recursos financeiros à saúde de Joinville por meio de projetos e admite que o SUS “sabe lidar bem a alta complexidade, mas não sabe atender dor de barriga” – uma referência a casos simples que normalmente são os que lotam pronto-socorros e PAs.

A nova secretária não escondeu certa apreensão diante dos desafios da pasta e confessou que assuntos como a reforma do quarto andar do São José – uma “novela”, segundo ela – provocam incertezas a qualquer gestor. Mas afirmou que espera estar com o primeiro paciente internado naquele setor no primeiro semestre deste ano e que aposta no estudo de cada situação e em mais comunicação entre as unidades de saúde como forma de resolver problemas que resultam em reclamações de usuários.

OS PRIMEIROS ATOS

AN – A senhora e o senhor, doutor Armando, já têm uma prioridade de ação nestes primeiros dias à frente da Saúde?

Armando Lorga – Há uma série de pendências que precisam ser e resolvidas. Tanto inauguração de postos, como reformas, como destinação de verbas. Não vamos parar o que já foi começado e não vimos nada já feito que precisa ser abortado. Nossa secretaria é altamente técnica, tem muitos estudos. Há problemas com filas, com a oftalmo (mutirão oftalmológico). Foi criada uma expectativa na população e temos que achar uma maneira de satisfazer as consultas represadas de forma rápida.

AN – Pensam em licitar um novo serviço ou em fazer consultas e cirurgias oftalmológicas pelo próprio município?

Antonia Grigol – Vamos visitar o PAM do Boa Vista, que continua atendendo, mas que não supre a demanda necessária. Temos que avaliar a possibilidade de ampliação dos nossos serviços e como podemos complementá-los. O Bethesda continua sendo nosso parceiro.

Armando – Há um gargalo de espaço a ser resolvido.

AN – O que é esse gargalo, é estrutura física?

Armando – É o São José, porque é lá que são feitas as cirurgias oftalmológicas da saúde pública. Ele está lotado e não há como acomodar os pacientes após as cirurgias. O Hospital Regional, por outro lado, não está credenciado. O Bethesda era uma opção porque tem espaço.

4º ANDAR DO SÃO JOSÉ

AN – Falando de espaço, é possível entregar os leitos do quarto andar do São José ainda neste mês?

Armando – Na nossa posse, o prefeito Carlito perguntou ao Tomio Tomita, diretor presidente do São José, se o quarto andar estaria pronto nos próximos 30 dias. É uma possibilidade.

AN – Possibilidade de acabar as obras físicas, mas não de pôr o setor para funcionar, não é?

Armando – Não sei. Hoje, tivemos nossa primeira reunião interna de gerências. Uma das metas é visitar todos as unidades de saúde, entre elas os hospitais para saber como está a situação. Faz tempo que não vou ao São José e não sei como está o quarto andar.

AN – Há como enfrentar a fila para cirurgias eletivas?

Antonia – A gente reduziu a fila de cardiologia com o matriciamento. É um modelo em que o médico cardiologista vai no posto, no PA, e treina o profissional de lá sobre como avaliar o paciente. Isso dá resolutividade. Na oftalmologia, não é possível porque dependemos de aparelhos. Precisamos avaliar essa nossa resolutividade. Por exemplo, temos dificuldade de avaliar se uma consulta resolveu o problema da pessoa ou se a pessoa foi lá e simplesmente foi encaminhada a um especialista. É muito fácil eu chegar lá na unidade e só fazer triagem no paciente, mas não é isso que queremos. Queremos que a pessoa saia do serviço bem atendida e informada.

AN – Qual o cronograma para entregar pronto o quarto andar? Qual a data para internar o primeiro paciente lá?

Antonia – Ontem (quarta), no dia da nossa posse, eu juro. Precisava ter gente ontem internada lá. Mas ainda vamos tomar conhecimento de todo o processo para colocar o quarto andar funcionar. Uma meta é o primeiro semestre deste ano. Nós esperamos, queremos e vamos nos empenhar para isso.

AN – E que outras prioridades vocês têm?

Antonia – Dar continuidade a 28 obras planejadas, como as UPAs e reformas. O mutirão da oftalmologia é outra. Temos que cumprir uma medida judicial para reduzir a fila dos ultrassons. São 12 mil exames represados. O Centro de Zoonoses é uma pendenga de muitos anos. Eu, como enfermeira da Vigilância Sanitária, na década de 1990, inscrevi uns três projetos para construir esse centro. Agora eu acho que sou obrigada a construir esse negócio, depois de tanto tentar. Temos que investir na sensibilização de agentes comunitários, principalmente para manter atenção sobre doenças como a dengue. Temos que ampliar nosso diálogo com o Estado e o governo federal. Tocar as obras, como o quarto andar e o Complexo. Precisamos estimular e motivar nossos trabalhadores da saúde e fazer com que sejam claros e sinceros com os pacientes, além de termos uma secretaria transparente perante o conselho, a imprensa e a sociedade.

RELAÇÃO COM O REGIONAL

AN – Há possibilidade de o município encaminhar ou emprestar médicos para o Hospital Regional?

Armando – Iria tomar profissionais importantes que precisamos no município, não há gente sobrando.

AN – Não vai ocorrer, então?

Armando – Não quer dizer que não possamos ceder profissionais em áreas emergenciais.

Antonia – Ficou acordado que a Secretaria faria uma consulta à Procuradoria do Município para saber sobre a legalidade de emprestar profissionais.

Armando – Tem que olhar se o profissional quer mudar de unidade também.

AN – Joinville sofre muito com o São José lotado e com o Regional sem médicos. Vocês vão conversar com o Estado para equilibrar isso?

Antonia – Precisamos conversar mais com o São José, com o Regional, com a maternidade. Eles são prestadores de serviços à secretaria. Precisamos conhecer, ampliar e estudar tudo isso.

ATUAÇÃO POLÍTICA

AN – A senhora resistiu a assumir o cargo. Por quê?

Antonia – Deixei de trabalhar no setor público em 2004 para ir à iniciativa privada...

AN – Decepção com o setor?

Antonia – Não, houve várias situações. Sempre houve um debate sobre a eficiência do SUS. Eu sou uma defensora do SUS e naquele momento acreditei que era melhor defendê-lo como professora, na faculdade, do que como profissional de saúde. Mas é claro que quando o prefeito Carlito me convidou para assumir a secretaria fiquei apreensiva. Como militante do partido e do SUS, porém, não poderia me negar.

MAIS HOSPITAIS

AN – A construção de um novo hospital passa pela cabeça dos senhores, como se comentou muito na eleição passada?

Armando – É algo que talvez o Estado possa responder. Para o município, já chega um hospital.

Antonia – Há o problema dos leitos, é crônico. Mas concluindo o quarto andar, que é uma novela, otimizando os leitos do Bethesda e sendo parceiro do Regional, para que ele funcione em sua plena capacidade, temos praticamente um hospital novo em leitos, sem precisar construir outro.

PÚBLICO X PRIVADO

AN – A senhora é uma defensora clara do SUS. E o senhor, doutor Armando, defenderia a implantação de uma OS no São José ou na rede municipal?

Armando – É uma discussão que não envolve só estruturas físicas, envolve pessoas, funcionários, culturas de atendimento. Exemplo: ceder o São José a uma OS, mas com funcionários que daqui a dois, três anos estão se aposentando? Como fica a situação dessas pessoas? Como serão substituídas: por concurso público ou pela CLT? Em estruturas que já funcionam, acho muito difícil essa mudança. No Infantil foi outra história, porque era algo novo. O hospital em São Francisco do Sul facilita ser passado a uma OS, como estão fazendo, porque vai começar do zero.

AN – O senhor defende OS?

Armando – Defendo OS em alguns casos. Não em um caso como o do São José. Mesmo antes do Infantil já se falava em OS no São José. Sei porque estava lá. Mas é extremamente complexo. O Hospital Regional passou por um processo assim. Era do Estado, foi ao município, depois a uma fundação, que era uma espécie de OS. Aí não teve como se manter, voltou ao Estado.

Antonia – Eu defendo o SUS, mas a própria lei do sistema diz que os serviços privados vêm para complementar. Nós complementamos comprando exames e serviços do setor privado. No ano passado, fizemos um evento para discutir OS, fundação e administração 100% pública. O que influencia é o modelo de gestão em cada uma.

AN.com.br
- Confira o vídeo no qual Antonia Grigol e Armando Lorga falam das prioridades a frente da saúde de Joinville


rogerio.kreidlow@an.com.br

ROGÉRIO KREIDLOW
ARMANDO LORGA
Tem 56 anos e há
30 atua como médico em Joinville. É formado pela UFSC e tem residência médica em pediatria e cirurgia pediátrica. Atuou nas administrações dos hospitais São José, Regional e Infantil de Joinville. Continua sendo médico do pronto-socorro do Infantil. É o primeiro cargo que ocupa na Secretaria Municipal de Saúde.
ANTONIA GRIGOL
Tem 47 anos, é especialista em saúde pública e mestre em saúde pública e meio ambiente pela Univille. Foi coordenadora do Programa Saúde da Família por dois anos e atuou 15 anos na administração municipal, da qual se desligou em 2004 para lecionar no curso de enfermagem no Ielusc.
OS PRIMEIROS ATOS
4º ANDAR DO SÃO JOSÉ
RELAÇÃO COM O REGIONAL
ATUAÇÃO POLÍTICA
MAIS HOSPITAIS
PÚBLICO X PRIVADO