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Contratação no Regional

O governo do Estado abre nesta terça mais um concurso para contratação de médicos para o Hospital Regional de Joinville. São vagas para atuação na emergência. Mais informações sobre o processo seletivo em
www.saude.sc.gov.br. Em julho, foram autorizadas contratações para o Regional, referentes a concurso aberto no início do ano.


Ideal seriam 14, hoje são 5
Da última vez, o Regional abriu nove vagas para médicos (houve contratação para outras categorias). Hoje, o Regional tem cinco médicos clínicos para atender na emergência. O mínimo ideal para atender à demanda do pronto-socorro seriam 14. Os concursos raramente preenchem as vagas.

 

 

 

Visor Rafael Martini

 

SINAL AMARELO
O prazo para que o governo apresente uma proposta aos servidores estaduais da Saúde termina hoje e não quarta, como informou este Visor. Caso não aconteça um acordo nesta segunda, a greve poderá ser retomada amanhã.

 

 


Cesarianas ainda são maioria, mas parto normal volta a ganhar força em Santa Catarina
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a taxa de cesáreas maior que 15% é injustificável
 Aline Torres

Patrícia Schneider e a pequena Sara em sintonia com árvore e a terra, que produzem vida

Poucos filhos do Brasil nascem pelas mãos de uma parteira. O avanço da medicina batizou de pri­mitivo um rito que a igreja em ou­tros tempos batizou de demoníaco. O corpo transformado em máqui­na pela renascença é sentenciado desde as interferências mecânicas. Mesmo quando não precisa de­las. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a taxa de cesá­rea maior que 15% é injustificável. Há dois anos, nas redes públicas, o país registra 2% menos de partos normais. Nas clínicas privadas de Santa Catarina o índice de cesáre­as chega a 92%, de acordo com o Ministério da Saúde.

O obstetra Fernando Pupin Vieira classifica de duas formas a alta procura pela cesariana: como­dismo do médico - “uma cesárea leva no máximo uma hora, o parto natural pode levar um dia”; e sta­tus. “Parto era coisa de pobre, com a máxima ‘você fez agora aguenta’. Era um castigo. Mas quem pudes­se pagar não precisava sofrer”, diz.

Mas a reação entre parto nor­mal e cesárea é adversa. Pupin alerta: “Quem ganha de parto normal imediatamente cuida do bebê. A mulher que faz cesárea fica acamada, recebendo medica­ção. A cesárea é uma cirurgia de urgência, que foi banalizada. E os riscos são variados, como hemor­ragia, infecções e trombose”.

A iminência de infecção obri­gou a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a criar nor­mas para as maternidades, visando diminuir cesáreas desnecessárias. Mas a procura aumentou 4% nos últimos dois anos. A Federação Na­cional de Obstetrícia e Ginecologia também interferiu , expondo que o bebê poderia sofrer de problemas respiratórios e prematuridade.

Há quem acredite que o jogo seja financeiro. “Hospitais indu­zem à cesariana, porque os gas­tos são maiores. Não pensam no conforto ou na saúde da mãe e da criança”, afirma Tiago Sagae, pós-graduado em Ciências Médicas.

Sem riscos, Sara chegou pronta para a vida

“Não irás conseguir”, disse a enfermeira do Hospital Santa Helena, quando Patrícia Schneider optou pelo parto normal. Patrícia teimou. Abolsa havia rompido há 24 horas. Mas a vontade de merecer a filha desde o primeiro instante a fez lutar.

Com quatro dedos de dilatação, aguardava a avaliação do obstetra Fernando Pupin. Eveio o diagnóstico esperado: o parto normal não ofereceria riscos.

Com o máximo de dilatação – 10 cm - era hora de fazer força por Sara. Acompanhada do obstetra, da doula Cristina Melo e do marido, William, Patrícia se agachou, como fazem os bichos quando a cria rebenta, e empurrou. Uma, duas, tantas vezes.

Ede supetão, expelida pelo corpo, pronta para vida, Sara caiu nas mãos de Fernando Pupin Vieira às 6h35 do dia 5 de abril, e foi dada à mãe, que a teve forte contra o coração.

Envolto pelos braços, ligado pelo cordão umbilical, estava o ser criado pelo seu corpo, de pele rosada, e ainda com sangue do útero onde morou por nove meses, um amor não experimentado, imensurável, mas valente e talvez maior que qualquer outro, e Patrícia sequer conhecia seu rosto...

Coube a William cortar o elo entre mãe e filha. Elembrou como foi pego de surpresa quando recebeu uma caixa de sapatinhos de bebê. Amulher estava com ciclo atrasado há quatro dias. Ele jamais suspeitaria. Edepois viu aquela barriga crescer, o corpo e as vontades de Patrícia mudar. Ali toda emoção fazia sentido.

Quando Sara crescer, os pais a levarão até uma árvore, dessas opulentas, que parecem mães das outras, e nas raízes contorcidas enterrarão seu cordão umbilical. Um rito com a terra, que recebe os corpos de todos os seres mortos, mas produz a vida, num ciclo de infindáveis contradições e alguns milagres.

Mãe água

No último dia da lua cheia, Pris­cilla Cardoso Zimmermann sentiu as dores. Rafael guiou depressa 30 quilômetros até a clínica Ilha, no bairro Pantanal, em Florianópolis. A mala já estava no carro à espera da primeira filha do casal.

Rebeca estava tão ansiosa para trocar o ventre materno pelo mun­do que não esperou o resultado do domingo eleitoral: o avô disputava uma cadeira na Câmara Municipal de Palhoça. Mas a atenção da famí­lia afastou-se das urnas.

Como as fêmeas leiteiras, Pris­cilla estava em metamorfose: hor­mônios expelidos para a corrente sanguínea; o corpo se abrindo, pele, músculos, ossos; o útero em­purrando o bebê para fora; três contrações a cada dez minutos; bolsa rompida; e a água de mu­lher o verde do líquido amniótico e o vermelho do sangue logo tingi­ram como aquarela a banheira por onde Rebeca deslizou presa à mãe pelo cordão umbilical.

O obstetra Fernando Pupin Vieira num rápido lance pescou a minúscula forma de vida – incapaz de andar, mas exímia nadadora –, que se contorceu em posição de feto, como estava habituada, no peito da mãe, trêmula de prazer.

Voz. Pele. Respiração. O tum tum tum cardíaco. Rebeca, nasci­da às 5h08 do dia 7 de outubro de 2012, estava registrando as primei­ras vibrações da sua progenitora. Vieira, que assistiu mais uma criança vir ao mundo, reforçou sua convicção: “O parto é da mãe. A mulher que faz, com sua parte do bicho, conduzida pelo instinto. O obstetra só observa e intervém quando necessário”.

Com as mesmas lágrimas que pingaram durante toda gestação, Priscilla chorou soluçado ao ver Rafael cortar o fio de carne que ligava mãe e filha. Na sala ao lado, Vera Lúcia Cardoso rezava e agradecia pela neta ter girado no útero, há exa­tos sete dias, realizando o sonho da mãe: pari-la.

 

Priscilla Zimmermann recebe apoio e carinho do marido durante o nascimento de Rebeca

Experiência e truques

Filha de parteira, Cristina Melo queria entender os segredos de pegar criança. Sabedoria escondida nas profundezas do feminino, banhada de sangue de mulher e água de criança. Aos 16 anos, acompanhou o primeiro parto. Aos 17, sentiu a emoção de parir. Desde lá soube que sua função era trazer crianças ao mundo.

Cristina se matriculou no Gama (Grupo de Maternidade Ativa), onde aprendeu truques para ajudar na gestação, no parto e na maternidade. Formou-se doula, uma espécie de amiga da gestante, com saberes técnicos e experiência.

Adoula também domina métodos para aliviar a dor no parto. Cristina recomenda água. “Banho de chuveiro, de banheira e bolsa com água quente são ótimos”, ensina.

O parto foi tomado da mulher”, diz obstetra

Contra a corrente, há um singelo movimento que busca a humanização do parto. Oobstetra Fernando Pupin Vieira e a doula Cristina Mello são seus defensores. O médico declara que a maneira de trazer o filho ao mundo é uma escolha da mãe, que deve ser respeitada. Mas avisa: “Cesárea sem necessidade é uma violência obstétrica”. No hospital-escola da UFSC, Pupin demonstra a tentativa de devolver o parto para a mulher, pois é parte da natureza feminina. Fisiológico. Ancestral.

“O parto foi tomado da mulher. Até 2005, as mulheres ficavam na sala cirúrgica, desacompanhada e quem conduzia tudo era o obstetra e a enfermeira. O parto foi institucionalizado”, explica Vieira. Após 2005, uma lei decretou que as grávidas podem ser acompanhadas por familiares durante o nascimento dos filhos.