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SEM TER PARA ONDE IR
Há um ano, ele mora no Regional
Paciente que não fala e não tem documentos foi deixado no hospital

Há um ano, imagens do circuito interno do Hospital Regional Hans Dieter Schmidt intrigaram os joinvilenses. Nela, dois homens apareceram transportando outro homem em uma cadeira de rodas pelo corredor do serviço social do hospital e, em seguida, o abandonaram.

De lá para cá, pouco mudou em relação ao que se sabe sobre o homem abandonado. Na época, a direção do hospital apurou que antes de ser deixado no Regional, o homem ficou internado no Hospital Municipal São José por uma semana, em decorrência de um AVC. Segundo o diretor do Regional, Renato Castro, ele foi levado para o São José por pessoas de uma clínica de recuperação de Barra Velha. As mesmas que o buscaram após a alta e dois dias depois o teriam levado até o Regional.

Falta de identificação

A falta de nome e de documentos de identificação fizeram com que as enfermeiras passassem a chamá-lo de Ni (não identificado). Ele também não fala. Hoje, com a saúde boa, a não ser pelas sequelas do AVC, que deixaram toda a parte direita do corpo paralisada, ele já recebeu alta. Mas ainda não deixou a unidade por não ter para onde ir. “Hoje ele mora aqui, não é um paciente”, disse Castro.

Com o objetivo de encontrar um lugar adequado às condições de Ni, a direção do hospital procurou 15ª Promotoria de Justiça de Joinville, com atuação na defesa dos direitos humanos e da cidadania, que entrou com processo contra a Prefeitura de Joinville para providenciar o local. Antes, no entanto, é necessário que ele passe por uma perícia médica, que irá apontar qual é a situação clínica e para onde ele deve ser levado. O juiz da 2ª Vara da Fazenda Pública, Roberto Lepper, já determinou que a psiquiatra Alessandra Spode Silveira faça a perícia, mas a data do exame ainda não foi marcada.

camila.guerra@an.com

 


SEM TER PARA ONDE IR
Comunicação por gestos

A longa estada de Ni no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt fez com que ele criasse uma identificação especial pela técnica de enfermagem Dinirce Mannrich. “Ele gosta de mim, eu devo ter uma fisionomia de alguém que ele conhece”, acredita. Como Ni não consegue falar, ele se comunica com as enfermeiras por gestos. “Ele entende muito bem a gente. Eu falo para ele: vamos sentar no sofá, e ele já se arruma. O problema é que ele não consegue se comunicar”, conta Dinirce.

Revezando-se nos quartos de internação da unidade, Ni passa boa parte do dia deitado, já que não consegue se locomover sozinho por causa da perna direita paralisada. Assistir televisão e ouvir música são seus programas favoritos.