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“O que eu quero é viver. Já disse para o doutor, quero viver mais 20 anos”. Com essa esperança, seu Daniel estava preparado para enfrentar mais um procedimento cirúrgico. Aos 72 anos e com quadro de insuficiência cardíaca, ele se tornou o primeiro paciente do Sistema Único de Saúde (SUS) a receber um implante de marcapasso cardíaco fisiológico no Estado. O procedimento foi realizado na sexta-feira, 24, no Instituto de Cardiologia, em São José (ICSC).

Já conhecida e amplamente aplicada, a técnica do marcapasso é utilizada para estimular o ritmo cardíaco do coração de pacientes que possuem insuficiência cardíaca e que não conseguem realizar a contração correta do órgão. Desta forma, o dispositivo marcapasso é implantado no coração do paciente realizando estímulos por meio de impulsos elétricos.

A implantação do marcapasso fisiológico faz parte de um estudo desenvolvido pelo Ministério da Saúde, através do Programa de e Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS) que selecionou o ICSC como uma das instituições para a realização do projeto. A intenção é comparar de que forma os pacientes se comportam a partir do implante tradicional do marcapasso ressincronizante e o marcapasso fisiológico.

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Fotos: João Soares / Secom

Crystian Tholl, chefe do serviço de cirurgia cardíaca da instituição, explica que uma das principais diferenças entre os dois procedimentos é a forma como o coração é estimulado. “Com esse estudo a gente tá fazendo a comparação de duas técnicas: a técnica que já estava estabelecida com uma nova técnica que vai estimular através de uma região interna do coração do septo profundo. Então a ideia do estudo pioneiro no Brasil é comparar as duas técnicas, a tradicional com a técnica um pouco menos invasiva, que é a do marcapasso fisiológico”, explica.

Os pacientes que necessitam se submeter ao procedimento são considerados graves, que já possuem uma perda significativa da qualidade de vida. No caso do seu Daniel, o agravamento do quadro vinha gerando muitos sintomas de falta de ar (dispnéia) e limitação aos esforços, com uma piora ao longo dos anos.”O tratamento para pacientes nesse perfil é medicamentoso e isso é uma terapia que é para agregar, para tirar o sintoma, melhorar a qualidade de vida, melhorar a classe funcional dele, para que possa fazer as suas atividades diárias, pois alguns não conseguem sequer tomar o próprio banho sozinho”, complemente Crystian.

No ICSC dez pacientes farão parte do estudo ao longo deste ano de 2023. Eles serão divididos em dois grupos: metade receberá o implante tradicional e metade o fisiológico. Desta forma, os pesquisadores poderão comparar os benefícios e de que forma os pacientes se comportam em cada uma das técnicas. “A ideia do projeto, além de científico, tem o intuito de trazer um grande benefício para o paciente. Infelizmente existem muitas pessoas aguardando por esse tipo de cirurgia e com o estudo a gente vai conseguir agilizar esse implante. Outro benefício é que essas pessoas que são candidatas têm uma tendência de melhorar muito com qualquer uma das técnicas, a gente está comparando hoje uma técnica boa com talvez uma ótima, então em ambas os braços os pacientes acabam se beneficiando da cirurgia”, afirma o médico Alexander Dal Forno, responsável técnico pelo projeto Physio-Sync.

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Atualmente o marcapasso fisiológico já é utilizado de forma ampla no sistema particular de saúde, com o estudo a ideia é ampliar a aplicação no SUS. Além disso, o novo dispositivo possui um valor menor, possibilitando que mais pacientes possam se beneficiar. “A proposta é que o implante fisiológico seja mais em conta que a terapia atual para que o SUS possa ofertar mais implantes aos pacientes que tenham insuficiência cardíaca. Hoje a insuficiência cardíaca é uma das patologias que têm uma maior morbidade juntamente com as doenças cardiovasculares, que é a principal causa de morte no mundo inteiro. Atualmente, o tratamento da insuficiência cardíaca envolve entre outras etapas justamente a terapia de ressincronização e implante de dispositivos artificiais, os ditos marcapassos. Então a gente pretende colocar mais uma oportunidade, mais uma opção de tratamento dentro do SUS, é mais um dos benefícios que nós queremos trazer para a nossa instituição”, explica o médico Gabriel Odozynski, responsável pelo projeto no ICSC.

O procedimento foi realizado no setor de Hemodinâmica do Instituto, a equipe foi comandada pelo cirurgião Crystian Tholl. Estiverem em atuação os profissionais: cardiologista Fabrício Mallman, chefe do serviço de Arritmia; eletrofisiologista cardíaco Alexander Dal Forno, responsável técnico pelo Physio-Sync; cardiologista Gabriel Odozynski, responsável pelo Physio-Sync no ICSC; enfermeiro Júlio Cesar Preve, chefe de enfermagem do setor de Hemodinâmica; enfermeira Rosānia Rodrigues; as técnicas de enfermagem Giseli Fanezi, Sandra Vom e Cristiane Castro; e o anestesista Bernardo Noronha.

Dois dias após realizar o procedimento, o senhor Daniel recebeu alta e está se recuperando em casa. Ele seguirá sendo acompanhado pela equipe durante todo o estudo. A expectativa é que os benefícios do procedimento possam ser observados ao longo dos 30 dias posteriores à cirurgia.